Tomando Nota

Por Marcos Ramos

Bogotá, 6 de junho de 2025

Uma das primeiras coisas que faço no meu dia é escolher um disco para escutar. E tenho a superstição de que isso definirá o rumo das coisas dali em diante. Ou seja, não é nada fácil. Escolher uma trilha sonora exige repertório, perspicácia e atilamento — são quase virtudes teologais, é verdade. Não sou adepto da ideia de que certas trilhas são incontestáveis, mas acredito piamente que algumas são mais universais que outras. Refiro-me, em especial, ao jazz.

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Bogotá, 2 de junho de 2025

Conheço Marcos Lobato como músico há muito tempo — desde que ouvi, ainda adolescente, o primeiro disco do Afrika Gumbe. Eu devia ter uns dezesseis anos, embora o disco fosse de 1989. Reencontrei o Marcos quando ele passou a tocar com O Rappa. Depois da saída do Yuka, o Lobatinho (Marcelo), que já jogava nas onze e carregava o piano nas costas (não por acaso tem um disco chamado Carregador de Piano), assumiu a bateria e chamou o Lobato (Marcos) para tocar teclado. Aquele cabeludo barbudo que aparece no Acústico MTV, de 2005, tocando, entre outras coisas, um harmonium, é ele.

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Bogotá, 1º de junho de 2025

Desde que voltei do Rio, não durmo direito. Primeiro achei que era só o corpo estranhando a mudança de altitude (apesar de ir e vir o tempo todo), mas a febre não descia, a cabeça doía atrás dos olhos, e uma fadiga meio existencial foi se instalando junto. Diagnóstico informal: dengue carioca com escala em Bogotá.

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Bogotá, 31 de maio de 2025

Ouvi por acaso, no portão de embarque do Galeão. Uma senhora de cabelos grisalhos, puxando uma mala pequena, disse com pesar: “Você soube que a Nana Caymmi morreu? Gostava tanto dela…” A filha, adolescente, fones no ouvido e celular na mão, respondeu de bate pronto: “Bolsonarista. Foi tarde.” A mãe se calou. Eu também.

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Aeroporto de Lima, 28 de maio de 2025

Desde que me lembro de mim, gosto muito de música. Além de escutar muita música, sempre gostei de pensar e de falar sobre ela. Sou um instrumentista amador: estudei um pouco de piano na infância e na adolescência, mais tarde me dediquei por algum tempo ao pandeiro, tive bandas e cheguei a tocar em bares e festas. Apesar de ter perdido a prática, ainda sei ler, aos trancos e barrancos, uma partitura. Digamos que, em termos de música formal, sou alfabetizado, mas não fluente.

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Rio de Janeiro, 25 de maio de 2025

Garimpar álbuns online, ao contrário do que se pode imaginar, é uma luta constante contra o algoritmo. A explicação é sucinta: ninguém sabe exatamente como funciona a caixa-preta, mas a experiência nos mostra que dois elementos são fundamentais no mecanismo coercitivo do Deus-máquina. Primeiro: ele opera sem criar rupturas na experiência de audição — em bom português, trabalha de modo que você não perceba que sua playlist terminou e que, a partir daí, as rédeas passaram para as mãos dele. Segundo: ele tenta empurrar goela abaixo (ou ouvido adentro) músicas que um grupo representativo de pessoas, que aparentemente tem o mesmo perfil de ouvinte que você, está escutando. O problema é que, na luta contra o programa, você nunca sabe se o que está escutando é fruto de uma vitória sua ou dele.

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